segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Desalmado


Dá medo só de pensar
na volta torta de se deixar

a vida passar e não alcançar
o ar pra respirar novamente

em frente ao palácio dos desanimados;

dá medo de permanecer nessa porta
fechada e sem alma

e querer partir rumo à estrada
que leva ao nada

para desencontrar-me de mim mesmo
e descer a ladeira para reencontrar

 o ralo do ar que penumbra e padece
entre os ventos secos, sórdidos, mórbidos
e pálidos feito uma face dilacerada

solta na estrada sem rumo,
sozinha e acompanhada pela singela
sorte desalmada,

por essa dúvida de não saber partir nem ficar,
sem saber onde essa falta de alma vai dar.


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sábado sombrio


Saio de meu sonho
assustado sem saber se sou
ou fui aquilo que vivi;

não sei ao certo se soube
ser o que queria ser; só sei que sou
o errado que me tornei;

a parte desgastada e assombrada;
me tornei o que sempre não soube
o que seria;

mas mesmo assim sou
o que somente poderia ser
(deste modo e não de outro);

afinal, até saber aquilo
que sou, não fui; fui apenas
um outro;

e deste outro outros me tornei.

Sou todos e nenhum; sou outros
sem saber que fui eu; fui outros
sem saber que sou eu;

simplesmente chorei naquela noite
fria o choro de minha vida sem saber
o que era, sem sentir a sombra daquele sábado em que vivi.

sábado, 9 de julho de 2011

Palavras rabiscadas e partidas e rasgadas

Escrever pra que se posso
rasgar os papéis de minha dor;

recortá-los rentes ao relógio que
marca seu tempo desgastado

e retirá-los de sua resina que
rasga o rosto de minha garganta.

Pra que rabiscá-los e arranhá-los
na reza de se dizer a rota torta

que arrota o gosto sem gosto
de não gostar de nada;

nem do barulho da ratoeira
que me rapta rápido e lentamente
rangendo seus dentes nos meus,

nem da rouca voz que escuto
nas raízes de minha planta
já plantada em meu pensar.

Escrever pra que se posso
simplesmente não falar
de meu silêncio,

se posso guardá-lo só
com sua sombra
para não assombrar
mais nada nem ninguém,

somente a mim e a meus
fantasmas ensombrecidos
de não sequer sentir suas
próprias solenidades,

escuras e claras de não
saber assustar nem a si mesmas;

somente a mim me pertencem.

Confusão

Confuso no corredor calado
e alagado de águas cortantes
que me bebem e me cospem;

caído aos calos cavalgados
na carruagem de minha ferrugem;

quebrado em partes parricídias
apertadas e fechadas que me fecham
e me partem ao meio;

desfacelado no esfacelo da face
de minha alma suja, surda, muda, moribunda,

martelada e rasgada e cega de tanto ver
a dor que sente já adormecida
de tanto acordar minhas vozes;

de se molhar com essas águas
de águias escuras e escarradas

na garganta gaga e no seu gosto
seco sem gosto sem gostar
e só gastar salivas soltas,

solitárias sem beijos,
sozinhas em suas sombras
amarradas, abraçadas e sufocadas

pelo sem sentido de não sentir mais nada.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Sólida solidão

A solidão canta, sua voz é
suave, doce, fria e amarga;
seu tom é grave, seu som perturba
e entorpece, tece a teia da
tristeza triste que de tão
profunda afunda e se perde;
se esvanece, se esquece...
de todo o tormento tatuado
no seu ser, de todo o seu andar,
de todo o seu viver;
a solidão se esquece e se perde
de si mesma, se acha escondida
e só; sem saber sentir seu sorriso,
sem saber que esqueceu sua dor.



Do final de 2010 para 2011.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sem título

Entre as noites alcoólicas,
no meio da diversão e da loucura,
não havia motivos incessantes que
causassem a corrosão.
Agora o tempo é de angústia,
de medo, sombra e escuridão;
causado pela embriaguez excessiva das doses,
dos copos virados de ansiedade e depressão.


Escrito em 2006 ou 2007.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Flores e dores temporais*

Meu olhar se apaga
e reflete uma imagem
Me transporto e me corto
com uma faca de miragem

O corte é profundo
porém imperceptível
como alguém invisível;
uma sensação, horrível

Sua dor é existente
e silenciosa,
mas grita
de forma gloriosa

O segredo se abre
como uma flor
O medo se fecha
e esconde a dor

Meu olhar se acende
e vê a imagem
Me volto e acordo
descobrindo uma paisagem

Talvez um dia eu possa
entender totalmente aquela paisagem
Se ela não for apenas
uma triste miragem

A miragem é levada
pelo vento
O vento é levado
pelo tempo

O tempo terá um fim
porque nada nele é infinito
Mas então, quanto tempo durará
um belo jardim florido?




*Escrito (penso eu) em 2007 com a mana Carol. A primeira parte (mais inocente) é minha e a segunda, mais madura, dela.

Há quanto tempo...

Há quanto tempo de um
desentendimento infantil         

Há quanto tempo de um tempo que
passou mas não foi, de um tempo forte e viril
Há quanto tempo de um tempo
mal temperado, mal vivido, mal amado

De um tempo ferido, mas cicatrizado
Malogrado, rasgado e calado
Há quanto tempo do tempo
torto, trilhado, tatuado
Há quanto tempo de um
tempo de tremores, risos e dores

Há quanto tempo de um tempo amigo,
de um amigo no tempo
Há quanto tempo...

Ao amigo Nagano.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Correnteza sombria

Escrevo para lavar a dor
que suja minha alma

Para secar a água que
vem de minha triste correnteza

Forte correnteza que acorrenta meus dias
Correntes tristes e carentes de alegria

Espero a chuva para aliviar e lavar essa sujeira surda e muda,
que apesar de gritante, ninguém a escuta

Enquanto a chuva não chega para lavar minha alma
e levantar meu espírito, me sinto quente nesse clima seco, solitário, sem sabor

Sem saber sorrir a solidão sábia
que não sabe sofrer

Sem sentir a palidez de uma sombra
que não sabe se defender

Mas que me assombra de tanto viver.

Poucas palavras

Mais um dia constante nesse
instante incerto que é viver
Nessa sorrateira ladeira, leve de dois lados,
longe de qualquer lugar e do amanhecer.

Palavras paranóicas

Palavras paranóicas, tão alucinadas
quanto meu próprio eu, partem rumo
ao deserto que de certo não tem nada.
Se perdem no vazio raso e fundo e
profundo que parece não ter fim;
mergulham e nadam e bebem a
água de seu afogar;
respiram somente por espelhos emparelhados,
transparentes e opacos, mas sujos
de tanto empoeirar;
já não sabem sorrir nem amar,
apenas se secam de tanto molhar (os olhos
estremecidos, solitários com medo de machucar);
palavras, palavras e somente palavras é o que
resta a esse pobre pensar, que não
sabe dizer, nem se calar.
Palavras sozinhas e acompanhadas por suas
almas piradas, transtornadas de não cessar;
palavras com medo de dizer, se mostrar
e assustar; palavras paranóicas com receio
de se silenciar e guardar o grave grito
que não se pode falar nem ocultar;
palavras paranóicas pelo silêncio e barulho
de se beijar e penetrar na pedra parte de seu paladar.

Palavras podres e perdidas

Procuro palavras perdidas,
podres, peladas e parafraseadas;
palavras passageiras que repousam
em suas poltronas para ali
permanecerem paradas para que
sejam encontradas por minhas pessoas;
as encontro sentadas em suas poltronas
com suas faces partidas;
páro para papeá-las em pálidos papéis;
para beijá-las de tinta preta e escura
e escarrar no branco a parte negra de
seu pensar (que já não pensa, mas escreve
e desenha a estirpe presa em seu peito);
rasgo tal figura e furo sua flor com meus espinhos;
machucadas as palavras se perdem e se partem e partem.
Me abandonam e me largam
feito um bandido preso por seu próprio pensar,
por seu pouco prazer, perdido no
encontro de as desencontrar.

Sofrimento delirante

Vago e desvago
o vazio devaneio
do delírio delintente,
latejado e delinquente.
Dolorido de dizer a
dor e provocá-la
na memória esma
mesma morta;
decadente dessa maldição
doente de viver vendo
e sendo a dor de meu querer,
desse dado dado a mim
para padecer e fazer doer
na dor morta adormecido
estalo que me faz sofrer.

Mente fadigada

Cansado de tanto pensar no ser que não sou,
nesse martírio de se ser o que não é;
na fadiga das palavras esquecidas,
perdidas ou ocultas, solitárias no vazio de meu eu;
nesse pensar podre que cheira à pessoa que sou (?),
nesse exalar de uma mente malograda, mal-dita, mal amada
por mim e minhas entranhas;
machucada me mata de tanta e muita estranheza,
me amolece minhas manhãs e manhas amortecidas
pelas minhas mortes mal vividas.