sábado, 9 de julho de 2011

Palavras rabiscadas e partidas e rasgadas

Escrever pra que se posso
rasgar os papéis de minha dor;

recortá-los rentes ao relógio que
marca seu tempo desgastado

e retirá-los de sua resina que
rasga o rosto de minha garganta.

Pra que rabiscá-los e arranhá-los
na reza de se dizer a rota torta

que arrota o gosto sem gosto
de não gostar de nada;

nem do barulho da ratoeira
que me rapta rápido e lentamente
rangendo seus dentes nos meus,

nem da rouca voz que escuto
nas raízes de minha planta
já plantada em meu pensar.

Escrever pra que se posso
simplesmente não falar
de meu silêncio,

se posso guardá-lo só
com sua sombra
para não assombrar
mais nada nem ninguém,

somente a mim e a meus
fantasmas ensombrecidos
de não sequer sentir suas
próprias solenidades,

escuras e claras de não
saber assustar nem a si mesmas;

somente a mim me pertencem.

Confusão

Confuso no corredor calado
e alagado de águas cortantes
que me bebem e me cospem;

caído aos calos cavalgados
na carruagem de minha ferrugem;

quebrado em partes parricídias
apertadas e fechadas que me fecham
e me partem ao meio;

desfacelado no esfacelo da face
de minha alma suja, surda, muda, moribunda,

martelada e rasgada e cega de tanto ver
a dor que sente já adormecida
de tanto acordar minhas vozes;

de se molhar com essas águas
de águias escuras e escarradas

na garganta gaga e no seu gosto
seco sem gosto sem gostar
e só gastar salivas soltas,

solitárias sem beijos,
sozinhas em suas sombras
amarradas, abraçadas e sufocadas

pelo sem sentido de não sentir mais nada.