quinta-feira, 21 de abril de 2011

Correnteza sombria

Escrevo para lavar a dor
que suja minha alma

Para secar a água que
vem de minha triste correnteza

Forte correnteza que acorrenta meus dias
Correntes tristes e carentes de alegria

Espero a chuva para aliviar e lavar essa sujeira surda e muda,
que apesar de gritante, ninguém a escuta

Enquanto a chuva não chega para lavar minha alma
e levantar meu espírito, me sinto quente nesse clima seco, solitário, sem sabor

Sem saber sorrir a solidão sábia
que não sabe sofrer

Sem sentir a palidez de uma sombra
que não sabe se defender

Mas que me assombra de tanto viver.

Poucas palavras

Mais um dia constante nesse
instante incerto que é viver
Nessa sorrateira ladeira, leve de dois lados,
longe de qualquer lugar e do amanhecer.

Palavras paranóicas

Palavras paranóicas, tão alucinadas
quanto meu próprio eu, partem rumo
ao deserto que de certo não tem nada.
Se perdem no vazio raso e fundo e
profundo que parece não ter fim;
mergulham e nadam e bebem a
água de seu afogar;
respiram somente por espelhos emparelhados,
transparentes e opacos, mas sujos
de tanto empoeirar;
já não sabem sorrir nem amar,
apenas se secam de tanto molhar (os olhos
estremecidos, solitários com medo de machucar);
palavras, palavras e somente palavras é o que
resta a esse pobre pensar, que não
sabe dizer, nem se calar.
Palavras sozinhas e acompanhadas por suas
almas piradas, transtornadas de não cessar;
palavras com medo de dizer, se mostrar
e assustar; palavras paranóicas com receio
de se silenciar e guardar o grave grito
que não se pode falar nem ocultar;
palavras paranóicas pelo silêncio e barulho
de se beijar e penetrar na pedra parte de seu paladar.

Palavras podres e perdidas

Procuro palavras perdidas,
podres, peladas e parafraseadas;
palavras passageiras que repousam
em suas poltronas para ali
permanecerem paradas para que
sejam encontradas por minhas pessoas;
as encontro sentadas em suas poltronas
com suas faces partidas;
páro para papeá-las em pálidos papéis;
para beijá-las de tinta preta e escura
e escarrar no branco a parte negra de
seu pensar (que já não pensa, mas escreve
e desenha a estirpe presa em seu peito);
rasgo tal figura e furo sua flor com meus espinhos;
machucadas as palavras se perdem e se partem e partem.
Me abandonam e me largam
feito um bandido preso por seu próprio pensar,
por seu pouco prazer, perdido no
encontro de as desencontrar.

Sofrimento delirante

Vago e desvago
o vazio devaneio
do delírio delintente,
latejado e delinquente.
Dolorido de dizer a
dor e provocá-la
na memória esma
mesma morta;
decadente dessa maldição
doente de viver vendo
e sendo a dor de meu querer,
desse dado dado a mim
para padecer e fazer doer
na dor morta adormecido
estalo que me faz sofrer.

Mente fadigada

Cansado de tanto pensar no ser que não sou,
nesse martírio de se ser o que não é;
na fadiga das palavras esquecidas,
perdidas ou ocultas, solitárias no vazio de meu eu;
nesse pensar podre que cheira à pessoa que sou (?),
nesse exalar de uma mente malograda, mal-dita, mal amada
por mim e minhas entranhas;
machucada me mata de tanta e muita estranheza,
me amolece minhas manhãs e manhas amortecidas
pelas minhas mortes mal vividas.